Uma
Política De Boa Vizinhança?
Uma
Visão Panorâmica
Os profissionais que têm por
ofício informar e se comunicar com o grande público, como
os jornalistas, políticos e professores, deveriam ter e cumprir um
rígido código de ética, para não traírem
a sua missão social e não trocarem informação
por desinformação. Alguns jornalistas parece que esquecem
seu compromisso social e as exigências da lei da imprensa, do Manual
de Redação. Esqueceram o juramento do ato da colação
de grau. Perdem-se às vezes em sofismas ou adotam frases feitas ou
de efeito duvidoso, sem sentido e sem sustentação. Produzem
frases de efeito para impactar, esquecendo seu compromisso com a verdade,
com a justiça e com responsabilidade. Em vez de informar, desinformam
e tentam manipular a opinião do leitor. Quando isto acontece, alguém
precisa reagir. São atos anti-sociais.
1. É sabido que língua é poder para um povo. Língua
é patrimônio e é soberania. A língua é
o “homem”, é a nação. Para as pessoa, é o grande
meio de comunicação, de interação, de pensamento
e de reflexão.
Quando a língua tem grandes dimensões internacionais, como a portuguesa, a terceira língua mais falada do Ocidente, dá-se a disputa absurda, num clube muito restrito. Podem surgir até conspirações disfarçadas; em vez de os falantes se respeitarem e serem solidários em projetos sócio-culturais, principalmente quando têm uma matriz sócio-cultural comum, perdem energias atacando-se...
Há gente que para diminuir ou exaltar um povo reduz ou exalta a sua língua. Mais estranho é alguém do espaço de uma língua, guerrear pela outra.
Vejamos um caso típico que direta ou indiretamente se insere no âmbito destas questões:
2. No momento em que os 12 (doze) países da América do Sul se reúnem para articular a criação de uma união institucional, dentro do seus interesses comuns, a UNASUL, vejo estampado na Folha de São Paulo (27.05.2008 – pg. A2), na coluna de uma jornalista, sob o título “Política de boa vizinhança”, uma frase extemporânea e distorcida, conotando um certo menosprezo ao Brasil e ao seu povo. Diz a frase que contestamos: “ O Brasil é uma ilha de língua portuguesa num oceano de língua hispânica...”
Para ser aceitável seria assim:
“O Brasil é um continente de
língua portuguesa tendo ao norte, a oeste e ao sul ilhas de língua
hispânica...”
O confronto foi feito entre a língua
portuguesa do Brasil e a língua castelhana, dos demais países
sulamericanos. Aquela é uma pequena frase repleta de preconceito
e injúria. Uma frase corrosiva para os incautos numa coluna de fumaça.
É uma frase codificada que precisa ser decifrada e desmascarada.
Afinal, que UNASUL (União das Nações Sul-Americanas)
queremos, se apesar das dimensões, em todos os sentidos, alguém
tenta diminuir o nosso país diante dos demais?! É de pasmar...
Cada país é o que é. E o Brasil é, efetivamente
um país gigante em todos os sentidos, buscando superar seus pontos
sociais fracos que também os outros têm.
É uma frase política que precisa ser
desarticulada para não se repetir. Acontece que a frase está
errada e é absurda; não somos uma simples ilha. Somos um continente.
Aqui está a chave da contestação. Como provaremos,
mais adiante, esta informação é uma fraude que se propõe
a confundir o leitor. Ilha oposta a Oceano conota o poderoso x o impotente.
Quem é quem? Uma condição é certa: O Brasil
não é essa "ilha", na condição sugerida.
De uma coisa estou certo: a frase não é
ingênua. É uma informação temerária e
inaceitável. É um posicionamento político estranho
que parece encomendado. Não é questão de interpretação,
nem de ponto de vista. Não. A frase é simplesmente inverídica,
agressiva e ofensiva... Não podemos continuar no faz de conta que
não li. Como língua é poder, a jornalista atacou-nos
no que temos de essencial: a força de nossa língua, nosso
instrumento de reflexão e de comunicação. Uma língua
de 250 milhões de pessoas.
Se trocássemos “ilha” por “oceano” e “oceano”
por “ilha” a frase ficaria mais aceitável. Vejamos como ficaria:
“O Brasil é um oceano de língua portuguesa,
com nove (9) ilhas de países de língua hispânica ao
redor”.
Fica mais correta mas ainda não satisfaz. A segunda
parte deste estudo dá a base deste posicionamento.
3. É quase inacreditável que uma profissional de tal qualidade
e competência tenha feito tão estranha e equivocada afirmação
utilizando um espaço tão nobre do nosso maior Jornal, a Folha.
Poucas pessoas de nível superior se atreveriam a assinar uma frase
tão inadequada e tão comprometedora, tão injusta para
com o Brasil. Aliás, o resto da frase não é menos equivocado
e insensato. Denota falta de visão de um processo histórico
dinâmico. (leia a frase inteira e comentada ao final deste texto,
no rodapé).
A imagem de “oceano de língua hispânica”,
oposta a “ilha de língua portuguesa” deturpa a realidade dos fatos
e desinforma o leitor. E não é apenas uma questão conceitual
e política; é também uma questão de matemática.
Uma “ilha” no “oceano”?! Quem é ilha e quem é oceano, no caso?
É o que vamos verificar. A jornalista inverteu os valores, confundindo
os dois pólos que estabeleceu: país de língua portuguesa
x países de língua castelhana... Sabia onde estava mexendo.
O novo formato da frase fica mais adequado trocando
“oceano” por “continente”:
O Brasil seria o "contimente"
e os países de língua hispânica seriam as "ilhas",
na nomenclatura da jornalista.
Considero mais adequado falar de continente e ilhas,
sendo o Brasil o continente, dada a sua extensão territorial, o número
de seus habitantes e o seu PIB . Os demais países sendo ilhas, como
adiante veremos e mantendo as figuras de linguagem da jornalista.
Por outro lado considero que não é
de bom alvitre inventar polêmicas artificiais entre as duas línguas
e os países em pauta que convivem bem, sem tropeços. São
duas línguas muito respeitáveis e muito respeitadas.
Quando somos atacados precisamos usar o escudo para
nos defendermos. É o que faço aqui, tentando esclarecer os
leitores Uso escudo e caneta, sem espada pois não há guerra
à vista. Com todo o respeito que tenho ao trabalho da Sra. jornalista,
não posso calar. Critico o texto e não a autora.
4. A afirmação em pauta é inaceitável cientificamente, xenófoba socialmente e deletéria politicamente. É uma afirmação leviana, espero que impensada. O tema da frase não está em jogo na crônica, não cabe e não é oportuna, nem pertinente. É uma frase préfabricada e, aparentemente, interpolada. Não é sério tal confronto, com o falso juízo de valor, neste momento: deturpa a realidade dos fatos. Quem não conhece a realidade fica com a pseudo-verdade publicada. Por isso me senti provocado e reagi. Não consegui me calar pois seria omissão imperdoável. Não seria atitude ética.
Civicamente, meu dever de brasileiro,
de estudioso, de professor de sociolingüística e de semiótica
me obrigou a escrever algumas reflexões sobre o assunto, demonstrando
meus argumentos com dados amplamente divulgados e inquestionáveis.
Acredito que alguém poderá querer
ver a frase no seu devido lugar e com o devido efeito, a bem da verdade.
Está na hora de deixar de levar aos leitores falsos e equivocados
problemas, manipulando a opinião pública. Precisamos ser sensatos.
As pessoas contam que os falantes do português usam mais o escudo
(para defesa) do que a espada (para ataque).
Defender nossas posições no contexto
das demais nações também é uma questão
de soberania nacional. Ninguém poderá impunemente
tirar-nos nada do que é nosso; nem o status. A honra do país,
também é patrimônio nacional que devemos
defender sempre com vigor e sem leniência.
Precisamos saber legar aos nossos descendentes,
às futuras gerações, um país ainda melhor do
que aquele que herdamos ao nascer, sem perder nada de seu potencial. Nossa
língua é um dos nossos mais fortes patrimônios. Não
podemos ceder ao entreguismo oportunista. Nossos filhos também precisam
zelar por seu patrimônio coletivo e saber fazê-lo melhor ainda.
5. Nesta manifestação irei provar o equívoco da frase
mostrando que a situação correta está no lado oposto.
Afirmo que a frase não se sustenta, mas se precisasse existir seria
assim formulada:
“o Brasil é um continente de língua
portuguesa
com nove ilhas de língua castelhana ao seu lado”.
É que o continente é mais do que as nove ilhas, em quase todos os sentidos que consideramos de mais positivo, socialmente. Os países da América do Sul que falam a língua castelhana são nove (9) e de fala portuguesa somos um (1), o Brasil. No entanto, sozinho, o Brasil supera os nove, como iremos demonstrar. A quantidade não é vantagem em si mesma nem dá superioridade, pois na UNASUL, supostamente se busca a harmonia, respeitando as diferenças e a identidade de cada um. Mas às vezes, os dados quantitativos ajudam a dirimir equívocos e a fazer justiça.
Tabela 1
A frase que chamou minha atenção
e me provocou a intervir no assunto é inoportuna na crônica
e em qualquer outro contexto. Não temos o direito de confundir o
leitor. É certo que, numa democracia, cada um é livre de falar
o que quer, mas precisamos ter ética, precisamos ser responsáveis.
Não podemos enganar o leitor. Está aí a lei da imprensa
e os direitos humanos e o código do jornalista.
Alguém acha correto rasgar esses documentos,
ou jogá-los no lixo?
A frase parece afirmação encomendada por “patrão” oculto. Veio-me à idéia também o “Cavalo de Tróia” e “A Arte da Guerra”...Mas tal atitude não combina com a jornalista. Então não se justifica. Minimamente é tentativa de agradar os hispânicos que certamente não lhe pedem tal tipo de regalo constrangedor. Talvez o incomode.
A talentosa jornalista se rebaixou
gratuitamente ao tentar “agredir” a sua bela língua e seu promissor
país. Ao tentar rebaixar a sua língua e o seu país,
a si mesmo humilhou, perdeu credibilidade.
Nem sua língua portuguesa nem seu país
merecem esta irreverente atitude de desdém, numa comparação
desastrada e falsa.
6. Acaso alguém acha que pode ficar sem resposta e sem reparo, uma análise comparativa tão falsa e descabida, referindo-se a um país do porte do Brasil? Ao que parece ainda é moda falar mal do Brasil. Mas esta atitude é adequada no bom jornalismo? É preciso ter postura. Colocá-lo em posição inferior aos demais países da América do Sul?! É atitude impensável e não sei a quem possa interessar tal disparate...
Lembro que nossa língua é a terceira mais falada no ocidente; é bela, rica, versátil e forte; é um grande tesouro de que dispomos para pensarmos e nos comunicarmos; é um monumento de grandeza. Deve e merece ser respeitada por todos, principalmente pelos jornalistas, que fazem dela a sua ferramenta de trabalho.
No momento em que se institucionaliza a união dos países da América do Sul, o Brasil não pode vacilar em suas dimensões e abdicar do peso que representa na UNASUL e no nosso mundo global. O Brasil precisa ser reconhecido como um país gigante, não só por suas dimensões territoriais, mas também pelo efetivo demográfico e pela grandeza de seu povo, um país continental, que tem consciência de seu papel na civilização, em termos globais e regionais.
7. Conclusão: Na Parte 2 deste documento provamos com dados que a frase em pauta é integralmente inaceitável. Politicamente é um risco e uma grande gafe, no momento em que o Brasil desponta como a grande esperança do mundo contemporâneo. O Brasil é um dos países favoritos, em muitos setores, para ter papel de alta relevância para o desenvolvimento da humanidades. É um país solidário que busca alianças construtivas e não precisa entrar em futricas inúteis.
Apesar de tanto descalabro e de tanta corrupção, o país, ainda tem a marca da esperança e não é à toa, não é gratuitamente.
Há muitas falas, atitudes e ações de brasileiros que mancham a honra e a credibilidade do seu país. Denunciar a corrupção e todas as maracutais que se cometem no Brasil e a nossa insegurança e falta de educação à altura é algo meritório. Ferir a auto-estima com informações equivocadas e atitude ética? Finalmente: a bem da verdade e da solidariedade entre os povos, solicito à jornalista que reveja sua frase, na própria coluna em que apareceu.
Nota: Esta é a parte introdutória do estudo. Se o leitor quiser pode encontrar o trabalho completo no blogue: www.tribunatropical.blogspot.com ou no sítio: www.portaldalusofonia.com.br
Leia o estudo completo. Você vai gostar e vai ter mais orgulho do nosso Brasil.
Fale conosco pelo e-mail:
tribunadosaber@gmail.com
José Jorge Peralta
Click aqui para ler O
Brasil na América dos Sul - 2
Todos os Direitos Reservados © Instituto Tropical