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O DESABROCHAR DA DEMOCRACIA

Um novo amanhecer?

 

1.     Com satisfação, saúdo o momento que atravessa Portugal, pelo amadurecimento democrático, que vai desabrochando em seu seio, vencendo o temor. O preço da liberdade às vezes é assustador...

Finalmente as pessoas começam a poder dizer o que sentem, sem temer perseguições, injúrias ou chacotas de uns poucos..., o que é muito constrangedor, só de pensar.

Ao menos neste grande fórum mundial, que é o PortugalClub, assistimos e participamos de debates abertos, acessíveis a todos. Da direita à esquerda, passando pelo centro, centro-esquerda, centro-direita e independentes, (sem carimbo), todos se manifestam. Todos se encontram, em convivência sadia, e até provocativa. Todos podem discutir, concordar, divergir, em pé de igualdade, com respeito e dignidade, mas sem meias palavras, que o temor sempre impõe...

Até agora havia, e ainda resiste em pequenos grotões urbanos, uma discriminação das pessoas, de modo ofensivo aos mais corriqueiros valores cívicos e éticos. Há por aí disseminada, à direita e à esquerda, mas já em extinção, a opção pelo “pensamento único”, que é, sem dúvida, resquício de um fascismo tardio (?!).

Enfim, começa a ser superada a idéia de que “quem não está comigo” é meu inimigo...(ao menos na teoria) (?!)

A ideologia do rolo compressor não é nada democrática; é apenas uma estratégia de poder, que  privilegia o poder da força e não  a força da justiça, da ética e do bem comum.

Como numa democracia séria, os erros e os acertos que envolvem os interesses da nação, são expostos à luz do dia. Há um longo caminho a percorrer, mas toda a grande viagem exige os primeiros passos.

 

2.     Para além de interesses corporativos, é preciso deixar o país livre de amarras, para que possa prosseguir seu destino. É preciso que os eleitos do povo cumpram o seu dever, sem corrupção, sem perseguições e sem achacamentos. Isto não é favor, é obrigação.

A Política precisa voltar a ser a arte do bem público, e não a arte de se apropriar dos bens públicos.

As pessoas não podem achar normal a corrupção na política; não podem tolerar. Quando o povo é tolerante com a corrupção, é porque o país vai muito mal...; está perdendo a sensibilidade e o discernimento; está sendo anestesiado pela propaganda enganosa.

Ética na política é sinal de civilização; o contrário é marca da barbárie. Campanha eleitoral deve ser compromisso real, executável.

A defesa do bem público, precisa deixar de ser uma utopia de palanque, em campanha eleitoral, para depois fazer o contrário do apregoado.

Um caso exemplar está sendo a comemoração dos 120 anos de Salazar.

Massacrado até hoje, desde antes do dia 25 de Abril, 35 anos atrás, Salazar começa a se sentir livre. Está voltando do “exílio” do ostracismo a que o condenaram... Parece que  recuperou seus direitos de cidadania... Não esquecemos que os homens honestos que beneficiam o povo não morrem, ainda quando os novos senhores do poder o “exilam” ou os desmoralizam.

Finalmente as pessoas podem hoje revelar o que sabem sobre os méritos inquestionáveis deste homem, deste português que, como todos os humanos, teve também seus “erros” inevitáveis... (Alguém se habilita a atirar a primeira pedra?).

O País não pode sonegar, às novas gerações, a verdade da história. Precisa transmitir a verdade total, não escamoteada. Agora passamos  ver um outro Salazar sem censura (?!)

Queríamos também poder apreciar o “25 de Abril”, sem censura, sem máscara e sem fantasias, numa “contabilidade” leal, sem manhas nem falcatruas fraudulentas.

Alguns dos textos publicados na imprensa e na Internet são realmente grandes testemunhos de lealdade ao país e à verdade histórica. Mereciam ser publicados em brochura, para que o público tivesse deles notícia. Por que não? O povo tem direito a ver a história do seu país, sem censura e sem viés...

Hoje vemos, nas livrarias do país, uma vasta bibliografia de Salazar, uns contra e outros a favor. Que assim seja. Finalmente a nação pode apreciar, sem viseiras, os dois momentos históricos em confronto: O 25 de Abril e o Governo Salazar... Saber quem é quem. Ver o mérito e o demérito de cada um. Quem paga tem direito a saber a verdade.

A decisão da opinião cabe ao leitor. Ninguém tem direito de sonegar ou de falsear a verdade. Mentir é crime contra a nação.

 

3.     O pensamento retilíneo é próprio dos brutos. O ser humano lúcido pensa dialeticamente, num pensamento multiforme e em ritmo ondular, numa  sequência dinâmica de tese, antítese e síntese. Assim é a vida real, numa sucessão se parar.

Efetivamente, Salazar não pode continuar sendo objeto de atitudes obscurantistas, na sua própria terra e nem o 25 de abril... Pelos frutos se conhece a árvore...

O país não pode ser vítima de atitudes fascistas, indignas da nação. Todos têm direito de ser contra ou a favor do que quer que seja, mas com razões aceitáveis, em igualdade de condições, com dignidade, respeito e responsabilidade; sem oportunismos vazios ou balofos... Democracia é isto. Democracia é ver, ouvir, pensar, querer, falar e fazer. Não é um mundo de fantasia.

Devemos  saber mais ouvir do que falar. Diz o P. Antônio Vieira que “Deus nos deu dois ouvidos e uma só boca”, para sabermos que ouvir é primordial para quem tem por obrigação o falar e o fazer.

 

4.     Infelizmente o “25 de Abrilestá sendo desacreditado por muitos dos que levantaram essa bandeira. A arrogância e a ganância destroem a melhor das intenções e levam a grandes injustiças.

Os poderes se esgotam, sangram na corda bamba, e finalmente caem... É a lei da vida.

Talvez esteja na hora de dar novo passo rumo ao “26 de Abril”. Portugal merece ser um povo efetivamente livre. Esta é a grande lição que nosso povo deu ao mundo.

Se a dialética é implacável, também na política, podemos confiar que do caos nasce a luz, como da tese vem a síntese. Não está longe o “26 de Abril” ou o “25 de maio”. É irreversível (?!).

Ninguém tem direito de pôr rédeas, algemas ou viseiras no povo. Ele não merece. Se o povo optou por democracia, que esta seja para valer.  Que seja  a favor da nação e não dos  eventuais “donos” do poder.

Está a hora de juntar novamente os cacos, para fazer um belo mosaico. É claro o desejo de que o país construa uma nova  síntese, num país mais nosso, com nossas cores...

O que o governo deve ao povo é uma educação de qualidade e dignidade de atuação, de todos os cidadãos, respeitando os direitos da nação, que estão sendo esquecidos e até negados por muitos. É preciso implantar a estratégia da competência  responsável, com a ética da transparência.

 

José Jorge Peralta

Nota: Este texto foi postado no websítioPortugalclub” no dia 05 de maio de 2009.

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