BRASIL - PORTUGAL
- JAPÃO: ELOS DE LIGAÇÃO
1 – RELAÇÕES PORTUGAL – JAPÃO
1.1 – Convivência Auspiciosa
A expansão marítima portuguesa no século XV/XVI atingiu uma proporção que até então nenhum Império havia alcançado.
Chegaram
os portugueses no alvorecer do século XVI, em 1500, ao Brasil e quarenta
e três anos após ao Japão, em 1543.
Tanto no extremo oriente como no ocidente,
a economia, a religião, enfim a cultura portuguesa se estabeleceu deixando
marcas significativas e duradouras.
Logo após a chegada dos primeiros portugueses leigos ao Japão chegaram os missionários.
O Padre Belchior Figueiredo foi o descobridor de Nagasaki como porto seguro para reunir uma comunidade cristã.
Os jesuítas, liderados por Francisco Xavier, aportaram
ao Japão no mesmo ano que chegaram ao Brasil: em 1549.
Os jesuítas chegaram aqui chefiados por Manoel da Nóbrega, junto
com o primeiro governador geral Tomé de Souza.
São Francisco Xavier e seus companheiros levaram para o Japão
a religião católica e o pensamento e as ciências ocidental:
a educação, a medicina, a matemática, etc.
Transcorridos, praticamente, quase cinco séculos desse primeiro encontro,
essa epopéia nos instiga a (re)-ver como as relações
entre eles se processaram.
Alguns aspectos dessa história nos chamam a atenção.
No século XVI os portugueses penetraram no Japão pela região de Kyushu. Estabeleceram-se em Nagasaki, transformando essa região num entreposto com características portuguesas, tanto na arquitetura como na religião.
Nagasaki pode ser vista como a janela aberta para o ocidente, graças à diversidade cultural ali instalada pelos portugueses.
A convivência entre os japoneses e os portugueses portadores de culturas diferentes possibilitou uma nova e rica produção cultural.
Inicialmente as relações foram relativamente amistosas. Posteriormente, a partir da união Ibérica, muitas desavenças ocorreram entre portugueses e japoneses, com mortes violentas, expulsões, proibições religiosas e rompimento de relações.
Apesar dos graves problemas enfrentados pelos portugueses e japoneses, podemos enumerar significativas conrtibuições culturais para os dois países.
1.2 Presença da cultura portuguesa na cultura do japonesa
Inúmeras marcas portuguesas deixadas nos séculos XVI, XVII e XIX estão presentes seja na religião, na arte, nos instrumentos musicais, na máquina de impressão e inclusive nas palavras. Passamos a inumerar alguns dos muitos vocábulos surgidos a partir do contato intercultural, em ambas as línguas.
Alguns exemplos de palavras portuguesas que foram absorvidas pela língua japonesa.
Alguns exemplos de palavras japonesas que foram absorvidas pela língua portuguesa.
Na arte, a presença portuguesa no Japão promove a arte NAMBAM, rica e delicada.
As alterações políticas sejam no Japão, ou em Portugal, como a União Ibérica (1580/1640), forçaram o afastamento e rompimento de relações entre os dois países.
1.3 Portugal e Japão
Etapas das relações Portugal – Japão no século XIX e XX.
Após um interregno de quase 200 anos Portugal e Japão se reaproximam e estabelecem oficialmente relações diplomáticas, através do Tratado de Paz, Amizade e Comércio – 1860.
Em 24 de março de 1880 ocorre a nomeação do primeiro Ministro Extraordinário Plenipotenciário japonês para servir em Portugal.
A eclosão da segunda guerra mundial provoca, de 1942 à 1945, tensão nas relações comerciais entre os dois países. Estas se tornam cada vez mais difíceis até o rompimento das mesmas em 1945.
Após o término do conflito, graças a atitude corajosa de Portugal, dá-se em 22/10/1953 o restabelecimento de relações diplomáticas. Nesta data Portugal inaugura sua legação no Japão.
No ano seguinte em 15/03/1954 o Japão retoma sua legação em Portugal e em 05/10/1958 essa legação foi alçada à categoria de embaixada e inaugurada seis meses após 01/04/1959.
A partir de 1984 as visitas, econômicas e diplomáticas
se ampliam. Nesse ano o primeiro Ministro Mario Soares visitou o Japão
pela primeira vez como convidado do Estado.
Em 1985 o Príncipe Real Akihito e Princesa Real Michiko visitaram Portugal
oficialmente.
Em setembro de 1990, pela primeira vez, no século XX uma missão econômica japonesa foi a Portugal.
Neste mesmo ano, visitaram o Japão os secretários da pesca e do comércio e ainda o ministro do comércio e turismo portugueses.
Embora, a partir do ano de 1990, as visitas econômicas e diplomáticas tenham se intensificado, as trocas comerciais não aumentaram significativamente de volume.
As exportações do Japão para Portugal são mais significativas que as de Portugal para o Japão.
Os principais itens exportados pelo Japão para Portugal são: carros, caminhões, motores a diesel, motos etc. O Japão recebe de Portugal sapatos de couro, polpa de madeira química, cortiça e outros.
Algumas barreiras comerciais já foram derrubadas em 1994 para a ampliação das relações comerciais entre os dois países, como por exemplo, abolição de algumas restrições de produtos.
1.4 Relações culturais Portugal – Japão século XIX e XX
Os intercâmbios culturais entre Portugal e Japão mantêm-se reduzidos desde a restauração das relações entre os dois países, em 1860, até nossos dias.
Poucos estudantes portugueses vão estudar no Japão. É pequeno também o número de japoneses estudando em Portugal.
Existem incentivos nos dois países, tais como bolsas para estudos de Pós-Graduação, apoio para visitas de estudo ao Japão. Contudo em pequena escala.
Há no Japão cerca de uma dezena de universidades japonesas que ensinam a língua portuguesa. Dentre elas a mais importante é a de Sophia, em Tókio.
A embaixada portuguesa no Japão com a colaboração seja do Centro Cultural Português ou do Instituto Português do Oriente, tem como uma de suas prioridades o ensino e a divulgação da língua portuguesa no país.
Os portugueses consideram que há no Japão mais de 250 mil falantes da língua portuguesa, embora essas pessoas sejam em sua maioria absoluta brasileiras.
1.5 Presença portuguesa na memória do povo japonês
Até nossos dias as marcas das lembranças deixadas pelos portugueses nos séculos XVI e XVII estão presentes em muitas comemorações e festas cíclicas.
Anualmente, em Tanegashima, são realizados, durante dois dias, festejos dedicados a Portugal entre eles uma homenagem à espingarda introduzida no Japão por Fernão Mendes Pinto, quando lá chegou como Embaixador de Portugal em 1543. Fernão Mendes Pinto foi um aventureiro que viveu muitos anos no Japão, após ter estado na China e outros países. Escreveu o livro “Peregrinação” através do qual revelou as maravilhas da cultura japonesa para a Europa.
Durante os festejos dedicados à Portugal, pelas ruas de Tanegashima desfila uma caravela com as velas de Cristo, sob os aplausos da população. Na caravela estão presentes japoneses representando marinheiros portugueses e Fernão Mendes Pinto.
Também Francisco Xavier imprimiu uma marca que chegou até nos dias: a primeira igreja e a casa da Companhia de Jesus.
Nagasaki também foi um importante porto de exportação e importação e ainda centro religioso com igrejas católicas e até mesmo um hospital construído no século XVI e introdutor da medicina ocidental no Japão.
Os portugueses levaram ao Japão o desenvolvimento filosófico, científico e tecnológico do Ocidente.
Em Nagasaki foi ainda construído um museu com muitos objetos que evocam a história do cristianismo nessa cidade.
Nagasaki recebe hoje portugueses e outros visitantes com o famoso Kasutera (castelo) o nosso pão-de-ló, fabricado com a receita deixada pelos portugueses.
Enfim, uma série de marcos culturais permitem montar um roteiro histórico das realizações portuguesas no Japão dos séculos XVI e XVII, passando por Tókio, Nagasaki e província Kagoshima.
2 – RELAÇÕES BRASIL - JAPÃO
2.1 Relações Japão - Brasil Independente
Se até o século XVIII praticamente Portugal foi o elo de ligação entre o Brasil e o Japão, a partir do século XIX Brasil e Japão iniciam encontros ocasionais.
Em 1803, casualmente, quatros náufragos japoneses pisam em solo brasileiro.
O século XIX, todo ele foi permeado de encontros esporádicos entre Brasil e Japão, seja através de visitas oficias, ou através de acordos.
2.2 Emigração japonesa para o Brasil
As negociações iniciadas no século XIX, adentraram o século XX. No início do século passado, mais precisamente em 1907, graças ao contrato assinado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo e a Companhia Imperial de Emigração do Japão oficializou-se a vinda de 3 mil emigrantes para nosso país.
No ano seguinte partiu de Kobe o navio Kasato Maru em 28/04, com 158 famílias, num total de 781 pessoas com destino ao Brasil.
Em 18 de junho de 1908, após 50 dias do embarque, chegava a Santos a primeira e histórica leva de imigrantes japoneses.
Novas levas chegaram em 1910 (906 imigrantes); 1924 (110 pessoas) e ainda em 1924 (60 imigrantes). Até 1941, véspera da segunda guerra mundial, já havia no Brasil uma quantidade significativa de japoneses. Desde 14/07/1915 está aberto o consulado japonês em São Paulo.
2.3 Marcas culturais dos japoneses no Brasil
Com uma colônia que cresceu ao longo do século XX os japoneses trouxeram para o Brasil um aporte cultural significativo. Seja na arte, em financiamentos, indústrias, agricultura, alimentação etc.
Uma série de acordos político-econômicos foram firmados pelos dois países.
As visitas oficiais tornaram-se regulares especialmente após o termino da 2ª guerra mundial. As marcas culturais nipônicas são visíveis em todo o Brasil.
A
partir de 1952 recomeça a imigração japonesa interrompida
em 1941.
São Paulo ganhou, em 1954, na festa do 4º centenário, o
Pavilhão Japonês, no Parque do Ibirapuera oferecido pelo governo
do Japão. No ano seguinte foi realizada a 1ª reunião para
a fundação da Sociedade Paulista de Cultura Japonesa (o Bunkiô),
atualmente conhecida como Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa.
A enorme distância física entre Brasil e Japão não impede o trânsito de pessoas, produtos e riquezas culturais entre os dois países.
Ao movimento de vinda de imigrantes japoneses para o Brasil, contrapõe-se o movimento de brasileiros para o Japão. Ao terminar o século XX o número de brasileiros no Japão chegava a 250 mil pessoas.
Passados 200 anos dos primeiros contatos entre japoneses e brasileiros constatamos que o saldo desse encontro é positivo.
2.4 Demograficamente os números dos japoneses no Brasil são significativos:
O Brasil possui uma colônia de mais de 80 mil japoneses.
Quanto aos descendentes, localizados principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará, já são mais de 1,5 milhão
Os brasileiros no Japão, principalmente nas províncias de Aichi, Shizuoka e Gunma – chegam à mais de 250 mil (a terceira maior colônia de estrangeiros no Japão).
2.5 Contribuições Culturais
- Templos religiosos de conformação japonesa são encontrados por todo o Brasil. Em São Paulo há uma riqueza imensa deles.
- Nas casas de cultura cultiva-se o ensino da língua, Ikebana, takô, origami, cerimônia do chá, bonsai etc...
- A culinária está presente em todo País; em São Paulo há uma infinidade de restaurantes japoneses, inclusive liderados por brasileiros oferecendo pratos típicos japoneses.
- A poesia japonesa brindou-nos com o Hai Kai que foi adotado por grandes poetas brasileiros, como Guilherme de Almeida, Haroldo de Campos, e outros.
- Na educação também se notam a presença do Japão. Muitas escolas de língua e cultura japonesa foram abertas no século XX. Em cerca de 400 associações culturais ensina-se a língua e transmite-se a herança cultural trazida do Japão. Como exemplo temos o canto, a dança, a arte e o esporte.
- As artes marciais fazem parte do esporte brasileiro. – Inúmeras academias ensinam artes marciais. Algumas lutas são ensinadas ainda em escolas brasileiras regulares.
- A Tanabata é uma festa cíclica popular realizada anualmente por algumas comunidades japonesas. A data oficial deste evento é o sétimo dia do sétimo mês do ano (7 de Julho).
2.6 Imprensa “Japonesa” no Brasil e outras Instituições
- Após a 2ª guerra mundial chegaram a circular no Brasil 8 jornais em língua japonesa.
- No final do ano de1946 surgiu em São Paulo o jornal São Paulo Shimbun.
- Em janeiro de 1947 nasceu o Paulista Shimbun. Esses jornais e outros veiculam matérias sobre arte, literatura da colônia e ainda matérias relacionadas à associações culturais. As matérias constituídas de poesias ensaios etc. são produzidas principalmente pelos JUN-NISSEI=japoneses vindo do Japão ainda crianças.
Na segunda metade do século XX, mais precisamente em 1956 foi fundada a Aliança Cultural Nipo-brasileira.
Foi um ato significativo, pois ela representou um centro convergente dos vários grupos dispersos.
2.7 Mercado Consumidor Brasileiro e Japonês
O Brasil, ou mais especificamente São Paulo, possui um mercado riquíssimo em produtos japoneses, desde alimentos, tecidos, música, desenhos animados, eletrodoméstico, carros, e outros, e um mercado consumidor ávido dessa produção.
Não tão amplo, mas muito significativo é o mercado consumidor japonês de produtos brasileiros, composto em sua maioria por dekassegui, mas não só. Músicas, filmes, fitas de vídeo, novelas, literatura, roupas são produtos de exportação do Brasil para o Japão.
Os dekasseguis no Japão contam com lojas de produtos típicos brasileiros como: biscoito de polvilho, goiabada, guaraná Antártica, cerveja Brahma e outros.
A difusão desses e outros produtos tipicamente brasileiros no Japão levou também japoneses a consumi-los.
Em 18/06/2008 comemoramos 100 anos da chegada da primeira leva de imigrantes japoneses ao Brasil, desembarcados em Santos, em 18 de junho de 1908.
Conhecer as contribuições e as possibilidades
de avanços nas relações entre os dois países é
sem dúvida ampliar as esperanças de uma sociedade melhor para
todos.
BIBLIOGRAFIA
PORTUGAL - BRASIL - JAPÃO: ELOS DE LIGAÇÃO
Kahn, Herman – Japão Superpotência –
O advento do superestado japones – Trad. de Pinheiro de Lemos Ed. Melhor.
1970. 2ª ed. São Paulo.
Pellegrini Filho, Américo e Yanase, Mitsuru Higuchi (Coord.) Encontros
Culturais Portugal – Japão – Brasil. Barueri – S.P.
Manoele, 2002.
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Revista Voz Lusíada – Revista da Academia Lusíada de Ciências,
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1993.
Peralta, João Jorge – Apostila “Portugal, Japão
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Europan 2004.
NAMBAM – Revista da Câmara de Comércio e Indústria
Luso-japonesa, nº 6, jan/ 03 - Lisboa.
OCEANOS – Revista nº 7, julho 1991 – Comissão Nacional
para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses –
Lisboa.
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Nota: O presente texto foi publicado na Revista Abaeté,
da Faculdade Europan, Cotia, nº1 - 2º semestre de 2004.
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